domingo, 31 de outubro de 2010

Animais também podem ter experiências espirituais


Se você já teve visões, sensações fora do corpo ou coisas do tipo, seu cachorro também pode ter tido. De acordo com um proeminente neurologista que analisou os processos da sensação espiritual por mais de três décadas, animais, e não apenas pessoas, podem ter experiências espirituais.
Pesquisas sugerem que tais experiências têm origem em áreas primitivas do cérebro humano, compartilhadas por outros animais com estruturas cerebrais parecidas com as nossas. O desafio, é claro, está em provar as experiências espirituais dos animais.
“Uma vez que só os seres humanos são capazes de comunicar através da linguagem a riqueza da experiência espiritual, é pouco provável que venhamos a ter certeza sobre o que um animal experimenta subjetivamente”, disse o professor de Neurologia na Universidade de Kentucky e autor do livro “A Porta Espiritual no Cérebro” (The Spiritual Doorway in the Brain), Kevin Nelson, segundo o Discovery News. O livro deve ser lançado em janeiro de 2011.
De acordo com Nelson, apesar da limitação, é razoável imaginar que os animais também sejam capazes de experiências espirituais, uma vez que as áreas mais primitivas do nosso cérebro por acaso são as relacionadas ao espiritual
A descoberta parte de uma pesquisa com humanos que vem sendo publicada em muitos periódicos conceituados. Um estudo de Neurologia, por exemplo, estabeleceu que as experiências fora do corpo em seres humanos provavelmente são causadas pelo sistema de excitação do cérebro, que regula diferentes estados de consciência. “Nos humanos, sabemos que se rompermos as regiões cerebrais onde visão, coordenação motora, orientação no sistema gravitacional da Terra e noção da posição do corpo todas juntas, as experiências fora do corpo podem ser causadas literalmente pelo toque de um botão”, disse Nelson. “Não há absolutamente nenhuma razão para acreditarmos que isso seja diferente no cérebro de um cachorro, gato ou primata”.
O professor acredita que outros mamíferos também tenham experiências de quase-morte como aquelas relatadas por alguns humanos, que costumam dizer terem visto uma luz e sentido como se estivessem se movendo em um túnel. Esse fenômeno é causado pela susceptibilidade dos olhos ao baixo fluxo sanguíneo que ocorre durante um desmaio ou parada cardíaca. Conforme o fluxo de sangue diminui, a visão periférica é a primeira a falhar. “Não há motivo para crer que com os animais seja diferente”, disse Nelson. “Como esse túnel é para eles é outra questão”.
Já o aspecto luminoso da experiência de quase-morte poderia ser explicado por uma ocorrência de REM (Rapid Eye Moviment – movimento rápido de olhos) conscientemente. “Na verdade, a ligação entre REM e a crise fisiológica que causa a sensação de quase-morte é mais forte nos animais, como gatos e ratos, que podem ser estudados em laboratório”, afirma Nelson.
Experiências místicas – momentos inspirados por um senso de mistério e espanto – surgem dentro do sistema límbico. Quando partes específicas desse sistema são removidas dos cérebros dos animais, drogas alucinógenas como o LSD não fazem efeito. Uma vez que outros animais, como os primatas, cavalos, gatos e cachorros também possuem estruturas cerebrais similares, é possível que eles também experimentem momentos místicos, e podem até ter um senso de unicidade espiritual, de acordo com Nelson.
Marc Bekoff, professor de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Colorado, também acredita que os animais tenham experiências espirituais, que ele define como sendo não-materiais, intangíveis, instrospectivas e comparáveis às que os humanos têm.
Tanto ele quanto a primatologista Jane Godall têm observado chimpanzés dançando com total despreocupação em quedas d’água que surgem após fortes chuvas. Alguns dos chimpanzés até parecem dançar em um estado de transe, como alguns humanos fazem em rituais religiosos e culturais. Godall se perguntou se seria possível que por trás dessas performances dos chimpanzés estejam sentimentos como admiração e reverência. “Depois de uma exibição na queda d’água, o intérprete pode sentar em uma rocha, seus olhos acompanhando a água caindo. O que é isto? Tem a ver com essa água?”, questiona.
“Talvez muitos animais participem de rituais assim, mas ainda não fomos sortudos o bastante para vê-los”, escreveu Berkoff em um relato para a Psychology Today. “Por enquanto, vamos manter a porta aberta à ideia de que os animais possam ser seres espirituais e vamos considerar a evidência para essa afirmação”, acrescentou. “Rasa como é, a evidência disponível diz, ‘sim, animais podem ter experiências espirituais’, e precisamos conduzir novos estudos e discussões interdisciplinares antes de dizer se os animais podem ou não experimentar a espiritualidade”. [MSNBC]

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Utilizar animais em pesquisa científica: certo ou errado?


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Fonte: Wikimedia.

Foi com essa pergunta que a Veja fez uma enquete perguntando se as pessoas são a favor ou contra o uso de animais para a pesquisa científica. Quando recebi o e-mail com esse link da Fernanda, as respostas estavam em surpreendentes 70% contra o uso de animais.
Fiquei impressionado com esse impacto negativo. E só tem um jeito disso fazer sentido na minha cabeça, as pessoas simplesmente não sabem por que se usam animais em laboratório.

Eu não uso animais em minha pesquisa, e faria o possível para evitar precisar. Mas nem sempre isso é possível. Ninguém tem animais para fazer experimentos com eles à toa. E nenhum cientista sério gosta de usar animais como cobaias. Conversei com uma amiga que precisou sacrificar vários ratinhos expostos à radiação ultravioleta. Obviamente ela detestou ter que fazer isso, e não o teria feito se não fosse extremamente necessário, se a pesquisa dela não fosse ajudar pessoas que possuem problemas no reparo de DNA e se danificam muito mais quando expostos ao Sol.

O que eu acho que as pessoas que votaram contra nesta enquete não param para pensar é qual a alternativa razoável. Onde mais medicamentos e procedimentos seriam testados antes de chegarem ao mercado? Sim, se você votaria contra e tiver uma boa solução, conte, pois sei de muita gente que gostaria de saber.

[se quiser uma noção de como um debate sobre direitos animais pode ser, recomendo muito este post do RNAm]

Fonte: Rainha Vermelha

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Porque os pés dos pinguins não congelam no gelo?


O pinguim já “veste um terno”, mas não ficaria bonito  de sapatos sociais. Aliás, poderia morrer se vestisse algo nos pés. Calçado não faz parte do código de vestimenta das aves de sangue quente. Pés descalços evitam que eles “morram de calor”.
A maior parte do corpo do pinguim é aquecida por sua acolhedora plumagem, quente e impermeável. Debaixo da pele, a gordura também contribui para o isolamento. Juntas, a gordura e as penas funcionam tão bem que uma ave descuidada pode superaquecer em um dia ensolarado.
É por isso que o bico e os pés descalços permitem que o calor escape, ajudando o organismo a manter uma temperatura constante.
Um pouco de ingenuidade biológica impede que as extremidades congelem. Algumas artérias da perna do pinguim podem ajustar o fluxo sanguíneo em resposta à temperatura do pé, alimentando-o com sangue suficiente para mantê-lo poucos graus acima de zero. Mas nem todas as espécies precisam de tal sistema. Na linha do equador, os pinguins de Galápagos enfrentam o sol escaldante e o calor apenas com muita ajuda de seus pés gelados. [LifesLittleMysteries]

Mais uma evidência de que as aves vieram dos dinossauros é encontrada


Um novo fóssil de dinossauro foi achado em Cuenca, na Espanha, e parece responder a uma antiga questão da paleontologia: afinal, as aves são uma sequência evolutiva dos grandes répteis do passado? Este novo fóssil encontrado pode estar nos aproximando da solução: cientistas espanhóis descobriram que o dinossauro em questão tem uma espécie de corcova, que pode indicar a presença de um primitivo folículo de penas.
Eis o nome que a nova espécie recebeu: Concavenator Corcovatus (que significa “carnívoro de corcovas de Cuenca”), e foi subdividido em um grupo conhecido como terópodes (é deste grupo que os pássaros foram supostamente originados). Estes dinossauros eram encontrados no continente de Gondwana (curso rápido da geografia que você já viu na escola: há 200 milhões de anos, o continente único, Pangeia, se dividiu em Laurásia e Gondwana. A Gondwana daria origem aos continentes do hemisfério sul), no período triássico.
A tal “corcova”, encontrada no Concavenator, parece ter grande semelhança com os anexos embrionários que dão origem às asas e às penas nos pássaros atuais. A teoria mais aceita é que houve uma sequência evolutiva natural: os dinossauros não usavam a tal corcova com nenhuma função relacionada a voo (ainda estuda-se a possibilidade de que servissem para regular temperatura ou armazenar comida), mas o apêndice assumiu tal função nas aves que vemos hoje. [BBC News]

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Controle biológico fractal


Cane-toad.jpg  

Para tentar resolver uma praga, o besouro-da-cana (Dermolepida albohirtum), um besourinho que estava devastando as plantações de cana da Austrália, em 1935 os australianos resolveram introduzir um potencial predador, o sapo cururu (Bufo marinus), nativo da América do Sul. É o que chamamos de controle biológico.

A decisão foi baseada em um sucesso, o sapo havia sido introduzido em Porto Rico para controlar a população de escaravelhos, diminuindo-as drasticamente. Mas deixaram de lado o fato do mesmo cururu ter sido levado para a Jamaica para controlar a população de ratos (o cururu é grande o suficiente para comer de ratos a pássaros), e isso não ter funcionado.

Em 1935 alguns animais foram levados do Havaí para o norte da Austrália. O sapo foi introduzido em diversos países no começo do século passado para controlar todo tipo de pragas, e em todos os locais acabou se tornando uma praga ele mesmo. Mas nada supera o que ele causou e tem causado na terra dos cangurus.  (clique para ver)

Bufoinvasion.gif
Espalhamento do sapo-cururu.

Na Austrália o cururu passou a comer tudo, menos o besouro-da-cana. Com uma fauna bem diferente do resto do mundo, a região foi um prato cheio para o sapo. Sem competidores a altura, passou a comer todo tipo de insetos, pequenos mamíferos e aves. E não só as presas sofrem, quem come as pequenas presas fica para trás na competição, de maneira que a população de cobras também está em declínio.
A população atual já passa de 200 milhões, se espalha por um território cada vez maior e sobra até para os grandes predadores, já que o sapo é venenoso e os predadores nativos não toleram o veneno, que mata inclusive raposas e marsupiais. (Aliás, a Austrália tem um histórico terrível de introduções animais mal sucedidas, como o coelho e o macaco pelado, que também destroem grande parte da fauna e flora nativa.)

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Eis que surge agora uma nova proposta para controlar um animal introduzido para controle biológico, o controle biológico dele! Acontece que, o cururu é um dos poucos anfíbios de hábitos diurnos na Austrália, horário de atividade das formigas comedoras de carne (Iridomyrmex purpureus) que, como o próprio nome sugere, são muito agressivas e comem de tudo, inclusive pequenos animais. Enquanto os anfíbios australianos conseguem escapar das formigas pulando, o cururu não. Aparentemente ele se defende de seus predadores parado, confiando no veneno que secreta, o que o deixa em desvantagem contra as formigas.

formiga rainhaCom a maior vulnerabilidade do cururu ao ataque, e a inatividade dos anfíbios nativos durante o período diurno, aumentar a população de formigas comedoras de carne na região afetada talvez seja uma boa forma de controlar o invasor.

Não sei se é uma boa alternativa, talvez consigam uma terceira praga. Mas algo tem que ser feito.

Vi no excelente Observations of a Nerd. Todas imagens foram copiadas do Wikimedia.

Fonte:
Ward-Fear, Georgia, Gregory P. Brown, Matthew J. Greenlees, and Richard Shine. "Maladaptive traits in invasive species: in Australia, cane toads are more vulnerable to predatory ants than are native frogs." Functional Ecology (2009).

Plantas Carnívoras



Pretendo fazer vários posts sobre plantas carnívoras, e para começar, veremos a Dionaea muscipula, chamada por Darwin de "uma das plantas mais maravilhosas do mundo", também conhecida como Vênus Papa-moscas ou aquela planta da boquinha.
As plantas carnívoras têm muito mais em comum com outras plantas do que se pode imaginar. Elas também realizam fotossíntese, captando CO2 do ar e sais minerais do solo. Então elas são carnívoras por quê? O solo onde ficam costuma ser pobre em nutrientes, de maneira que a apreensão e digestão de pequenos animais complementa a deficiência do substrato.

A papa-mosca é nativa do leste dos Estados Unidos, da região dos estados da Carolina do Norte e Carolina do Sul. Ela possui uma folha modificada, onde o pecíolo que normalmente forma a base da planta passa a fazer a fotossíntese e o limbo é modificado em dois lóbulos que formam a armadilha. Ao contrário do que muitos gostariam, sua folha normalmente não passa de 10cm de comprimento. Sua armadilha possui de 15 a 20 cílios que impedem a saída da presa. Próximas à borda existem glândulas secretoras de néctar, as quais junto ao pigmento antocianina que dá acor avermelhada, atraem os insetos e pequenos artrópodes que servem de presa.

Para que a armadilha se feche, são necessários diferentes estímulos que aumentam as chances de uma captura bem sucedida. Antes de mais nada, a folha percebe a presa por pêlos-gatilho, que ficam a uma distância da glândulas tal que animais pequenos demais, que não valeriam a pena o processo de digestão (este consome muita energia) não acionam os gatilhos. Quando a presa é grande o suficiente, ela atinge o gatilho, mas isso ainda não é o suficiente, como forma de garantir que trata-se de um animal, e não uma gota de chuva por exemplo, o gatilho normalmente precisa de um segundo estímulo, ou outro gatilho precisa se tocado (dentro de um período de cerca de 20s, quanto antes o segundo estímulo mais rápido se dá o fechamento). Após o acionamento, se dá uma comunicação por cálcio e outros sinalizadores (este mecanismo ainda não está completamente elucidado) que promovem o fechamento da armadilha.

O mecanismo do fechamento foi recentemente elucidado por pesquisadores da universidade de Harvad, que propuseram uma mudança conformacional dos lóbulos movida por energia elástica: os lóbulos têm duas conformações, uma convexa, que é adotada quando a folha está aberta e outra côncava. Quando os gatilhos disparam a mensagem, a folha passa a dissipar a água que mantém a pressão que dá o formato convexo, com isso, o lóbulo passa para o outro estado, o convexo. Essa mudança é rápida e se dá em até um décimo de segundo.
Quando fechada a armadilha ainda mantém um espaço entre os cílios que permite a saída de animais muito pequenos. Se os estímulos mecânicos e químicos continuarem, indicando que a presa é grande o suficiente para não escapar, o fechamento se completa e a digestão começa. Na parte interna dos lóbulos, existem várias glândulas digestivas que liberam enzimas que vão degradar as partes macias dos artrópodes. O exoesqueleto feito de quitina não é digerido e permanece quando a armadilha é aberta, sendo levado pelo vento ou pelo chuva. Essa etapa dura entre dois e doze dias, dependendo da temperatura e do tamanho da presa.
Feita a digestão a armadilha volta a se abrir, desta vez lentamente devido à hidratação, ganhando tamanho durante o processo. As folhas podem se fechar apenas algumas vezes (uma única se a presa for muito grande) e conforme amadurecem perdem a capacidade de apreensão e apodrecem.

Fonte: Rainha Vermelha

Peixes com mãos

Os Handfish são peixes de água salgada da região da Austrália (de onde mais) que vivem basicamente parados. São peixes de corais, que muitas vezes possuem apêndices na cabeça feitos para atrair a presa, e assim como seus parentes, os peixes sapo, têm nadadeiras adaptadas para suportar-se no mesmo local.
Aqui vão algumas fotos da NatGeo das espécies mais recentes descobertas na Tasmânia. As cores chamativas ficam como aviso do veneno que eles costumam ter sob a pele:

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Fonte: Rainha Vermelha